Ex-craque da Juventus e do Milan, Capello brilhou como técnico. Ele conquistou a Champions League com o Milan, duas LaLigas com o Real Madrid e uma Serie A com a Roma, além de ter disputado a Copa de 2010 à frente da Inglaterra.
Confira abaixo a entrevista com o mister italiano, que hoje é comentarista da emissora Sky Italia.

Ancelotti no Brasil
• O técnico Carlo Ancelotti, do Real, tem sido frequentemente ligado ao Brasil. Ele pode ser um bom técnico de Seleção?
Como estilo, com certeza, mas ser técnico da seleção é outra coisa. O importante, eu sempre digo, é que quando você tem uma seleção, você precisa da sorte de encontrar um grupo de jogadores e, então, você vence se tiver jogadores de grande qualidade. O Brasil parece não ter muitos, não é um Brasil para ser temido. Eu diria que eles têm Vinícius Jr., que faz a diferença nesse momento, mas não sei... talvez seja também um desafio para Carlo, e ele já encarou desafios, venceu quase todos e esse provavelmente seria o último antes de se despedir.
• Você também treinou o Ancelotti. Como foi sua evolução de jogador para técnico?
Eu o treinei no Milan e, portanto, pude ver sua habilidade e técnica em campo. Quando entrava em campo, dava para ver que ele tinha a qualidade de saber ler o jogo e saber como ar isso para seus companheiros, com es, mas também com lembretes. “Venha cá, você está em uma posição ruim, tome cuidado”. É preciso falar em campo porque, se você fala, há alguém em uma posição errada que não percebeu. Ancelotti era mais do que dinâmico naqueles jogos, ele era realmente aquele que dirigia a orquestra com palavras e também com bolas, mas muito mais com palavras.
E ele era um cara muito sério, ele consegue entender em todos os lugares onde trabalhou o que aquele clube pede – na Alemanha, na Inglaterra, na Espanha – e fazer com que o time jogue de acordo com o estilo que eles preferem, mas ao mesmo tempo fazendo prevalecer suas idéias de futebol. E isso não é uma coisa fácil, é muito difícil, você tem que ser professor e ele é.

Experiência na Inglaterra
• Como foi ser o 1º estrangeiro a dirigir a seleção inglesa?
Comandar a Inglaterra não é um trabalho normal. Para um técnico, gerenciar uma equipe (de clube) é normal porque você pode treinar todos os dias, pode encontrar o problema, pode resolver os problemas. Você pode conversar com os jogadores, saber por que as coisas funcionam, por que não funcionam.
Como técnico da Inglaterra, você tem de selecionar o jogador. Às vezes, o jogador que você escolhe não joga como você imagina.
Por esse motivo, você precisa encontrar três ou quatro jogadores que venham do mesmo clube. Eles têm o espírito do clube. É a mentalidade, o espírito que é muito, muito importante quando você joga partidas internacionais.
Às vezes, alguns jogadores que você acha que são realmente bons, quando vestem a camisa da seleção, jogam com medo. Por esse motivo, é preciso encontrar o melhor jogador que possa jogar em alto nível quando veste a camisa da Inglaterra. Essa é a coisa mais difícil.

Sobre os brasileiros que treinou
• Por que o Cafu era tão especial para você na Roma?
Eu tinha dois zagueiros, ambos brasileiros, que tinham uma grande qualidade na corrida, discretos na defesa homem contra homem, mas quando avam da linha do meio-campo eram perigosos pela qualidade, pelos es que faziam, e eu digo Cafu e Roberto Carlos. Quando você encontra esses jogadores com essa força, essa qualidade, com essa seriedade que eles têm e atenção que eles têm em campo, é algo muito, muito bonito e que ajuda você a vencer.
• Outro brasileiro que você teve foi o Emerson, por que ele foi tão importante para o seu jogo?
O Emerson era o equilibrador, um jogador no meio de campo que sabia recuperar a bola, sabia chamar o time e, portanto, ele em campo fazia com que tudo o que tínhamos preparado durante os treinos acontecesse durante o jogo, fosse feito durante o jogo.
O que acontece com Guardiola?
• Por que o Manchester City está tendo dificuldades nesta temporada?
Ele ganhou muitos títulos, muitos mesmo. Ele é um dos melhores técnicos, assim como Ancelotti. Eles são os dois melhores técnicos do mundo – eles fizeram algo diferente.
Quando você treina por um longo período e ganha muitos troféus, a mente dos jogadores muda. Se você sempre treina o mesmo estilo, precisa tentar algo diferente. Eles jogam para vencer, mas não é a mesma coisa.
Você pode ver o City agora, eles tentam fazer a mesma coisa que faziam antes, mas devagar, não é a mesma coisa. As outras equipes entendem isso e, quando jogam contra o City, conseguem recuperar a bola no alto e marcar um gol.
Mas, agora, no último período, eles perderam Rodri, que era um jogador importante. Ele era o equilíbrio entre a defesa e a frente.
E os cinco jogadores que eles compraram agora são jovens. Eles são para o futuro, acredito que em pouco tempo eles serão o mesmo City de que nos lembramos.
• Então você acha que esse não é o fim de Guardiola no Manchester City?
Não, depende dele. Se ele acredita que pode fazer algo mais, algo diferente, você pode ficar. Se não, a decisão é dele. Quando fiquei cinco anos em um clube, eu sabia que era o fim para mim porque via que os jogadores não estavam mais “irritados” como antes.
Se você não está com raiva, quando joga para ganhar títulos e troféus, no final, quando eu voltava para casa depois dos jogos ou dos treinos, eu não estava feliz porque via que o nível de “raiva” era diferente.