Uma coisa importante no início: quando Rafael escrevia mensagens para a câmera após suas vitórias, ou dava autógrafos para pequenos fãs, ele segurava um marcador na mão direita.
Mas ele sempre pegava a raquete com a mão esquerda. Ele também usava a mão esquerda para destruir seus adversários com golpes longos e fortes durante toda a sua carreira.
Os genes esportivos estavam na família Nadal, não há como negar isso. O pai Sebastian jogou futebol por um tempo, até mesmo na segunda divisão espanhola. Mas ele não era bom o suficiente para se destacar, por isso, até hoje, é o irmão menos conhecido.
O tio Miguel, o mais novo dos irmãos, era um excelente cabeceador e um respeitado goleiro do Barcelona e da seleção espanhola. Ele chegou a ser classificado como um dos 50 jogadores de futebol mais difíceis do mundo de serem enfrentados.
Conselhos de seu tio
Na verdade, foi estranho o fato de Rafa também não ter continuado no futebol. Seus modelos eram ótimos. Mas desde pequeno, ele ia ao clube de tênis duas vezes por semana para jogar futebol. Quando ele tinha oito anos e era um atacante muito promissor no time de futebol de Manacor, provavelmente aconteceu a coisa mais importante de sua infância.
Ele ganhou o campeonato de tênis sub-12. " Foi quando as pessoas começaram a me dizer que eu poderia chegar ao topo do tênis", relembrou ele em uma entrevista de 2006 à revista Times.
Vencer um torneio para meninos três anos mais velhos que ele não ou despercebido. Rafa começou a ser atraído pelos grandes clubes de tênis, e então o tio Toni entrou em cena.
Ele começou a trabalhar de forma muito mais consistente com seu jovem pupilo. Seu sobrinho foi aconselhado a ir à rede com mais frequência, embora derrotasse facilmente seus adversários na linha de base.
Ele também incentivou Rafa a mudar de mão e jogar com a mão esquerda, embora ele seja destro. "Quando eu era criança, jogava com forehand e backhand com as duas mãos. Então, um dia ele me disse para tentar uma vez só. No futebol, minha mão esquerda era mais forte, então pensei em tentar jogar com a mão esquerda. E deu certo", lembrou Nadal.
O plano diabólico de seu tio conivente nasceu. Era hora de transformar o menino destro em um canhoto do tênis. "Faremos isso o mais rápido possível para que ele se acostume e não ache estranho", disse Toni na época em que o pequeno Rafa ainda combinava futebol e tênis.
A família em primeiro lugar
Falando após sua última partida, Nadal mencionou que gostaria que as pessoas se lembrassem dele não apenas por seus títulos e troféus, mas também porque ele se sente uma boa pessoa de um pequeno vilarejo em Mallorca. Rafa sempre valorizou sua família.
Para os fãs de tênis, o ano de 2009 certamente está gravado em suas mentes, quando Nadal, depois de uma grande temporada, não conseguiu defender Roland Garros e perdeu pela primeira vez em Paris (na quarta rodada para Robin Söderling). "Sei como ele joga e como pode ser perigoso. Mas eu não estava calmo o suficiente para as grandes trocas. Lutei, mas às vezes lutar não é suficiente", disse ele depois.
Ficou claro por que ele falhou. Ele nem mesmo foi defender Wimbledon, enviando uma desculpa para Londres dizendo que estava com tendinite no joelho. Mas um dos motivos foi seu estado mental. Pouco antes disso, no início de 2009, os pais de Rafa se separaram.
Ele se deu conta da importância da família para ele. E talvez seja por isso que ele tenha adiado a formação de sua própria família até o final de sua carreira. Seu primeiro filho, Rafael, só nasceu em outubro de 2022.
O foguete amarelo e preto
Desde o primeiro dia em que o jovem Rafael subiu ao palco, ele também se tornou um personagem procurado pelas marcas de moda. A imagem do adolescente atrevido, que preferia usar uma camiseta regata para exibir seus braços musculosos, fez dele um ícone imperdível no início de sua carreira. A batalha por sua foi vencida pela Nike mas, com o tempo, a empresa também moldou seu embaixador em papéis menos proeminentes para aumentar as vendas de suas linhas de roupas normais.
Em termos de equipamento de tênis, Nadal permaneceu fiel à marca Babolat durante toda a sua carreira. Inicialmente, ele começou com o tipo Pure Drive, como Andy Roddick, mas como seu jogo era muito baseado em bolas levantadas, o fabricante francês desenvolveu uma raquete especificamente para sua maior estrela. A seção transversal oval original da estrutura foi substituída por um triângulo e uma estrutura aerodinâmica exclusiva chamada AeroPro Drive foi criada.
Esse tipo de raquete perdura até hoje, exceto por pequenas inovações. E como sua raquete também tinha uma coloração amarelo-preta característica, ela se tornou um sucesso entre todos os jogadores de tênis. Muitos jogadores recreativos que não tinham a potência e não sabiam como levantar a raquete estavam recebendo um tipo totalmente inadequado. Mas estava na moda jogar com a raquete usada por Nadal.
O rei de Roland Garros sem o jogo no saibro
Na era pré-Nadal, os torneios no saibro eram vencidos por jogadores criativos, artesãos do tênis que se deleitavam com golpes curtos, jogadas variadas e técnica. Mas Rafa jogava pouquíssimos jogos curtos brilhantes e, quando jogava, não era seu jogo significativo.
Ainda assim, ele se tornou o rei do saibro. Ele mudou a maneira como vemos o jogo no saibro laranja. Mas havia uma lógica nisso. Nadal era e por muito tempo continuou sendo um corredor excepcional. Em uma superfície que não é tão rápida, ele conseguiu alcançar muitas bolas, mesmo que aparentemente perdidas. E, ao mesmo tempo, quando ele ficava sem a bola e dava seu golpe em pleno voo, o giro das cordas de sua raquete era ainda mais forte. Pois ele nunca ficava parado e raramente jogava fora de posição.
"O fato de ele ser canhoto significava que todos os adversários giravam para o outro lado. Os forehands poderosos geralmente chegavam ao backhand de um jogador destro e o mandavam para fora da quadra. Especialmente com seu tremendo giro. É difícil jogar contra isso", disse Michael Chang, o vencedor de Roland Garros em 1989, à BBC
A santíssima trindade
Em uma época da qual ainda nos lembramos, o tênis era governado por um trio de personalidades muito diferentes: Roger Federer, Rafael Nadal e Novak Djokovic. Foi uma sorte que eles tenham se encontrado ao mesmo tempo. O triângulo icônico e único, no qual todos eram completamente diferentes e competiam entre si, impulsionou suas qualidades.
Para todos os três, a rivalidade era uma motivação para serem melhores. Se Djokovic não existisse, talvez Federer e Nadal tivessem mais de 30 Grand Slams hoje, mas talvez não tivessem sido tão bons em sua época.
Rafael Nadal foi um dos três reis. Ele começou como um garoto que irava seus modelos. A foto icônica a esse respeito é um lembrete de como, aos 14 anos, ele segurou a bandeira da equipe na cerimônia de entrada da Copa Davis. Depois, ele era um adolescente atrevido que trouxe à cena um estilo de tênis único para se tornar um campeão com 22 troféus de Grand Slams.
Depois, no final de sua carreira, ele podia ser visto como um homem ansioso por uma saída digna. Ele não queria terminar com uma declaração em uma coletiva de imprensa, ele queria se despedir na quadra. Sua saída de cena não foi agradável. Foi bastante cruel e verdadeira. Mas, como aconteceu em toda a sua carreira, em todas as suas partidas, ele se recusou a desistir...